terça-feira, 2 de novembro de 2010

A polêmica de correr descalço

Surgem no Brasil corredores que dispensam os tênis para tentar se proteger de lesões. Mas não há consenso entre os especialistas sobre os benefícios da prática

Nos Estados Unidos, aposentar os tênis na hora de correr não é mais novidade. Naquele país, mais de 250 pessoas reuniram-se no domingo 10 para a primeira corrida sem calçados de Nova York. O evento é um entre os mais de 60 catalogados pela Sociedade Americana dos Corredores Descalços – entre provas e workshops. Por aqui, observa-se o surgimento de grupos desses corre dores e de pontos de encontro para a troca de informações na internet.

Um dos focos impulsionadores desse movimento está na Universidade de Harvard. Pesquisador do departamento de biologia da evolução humana da instituição e corredor descalço, Daniel Lieberman causou rebuliço ao publicar um artigo na revista “Nature” defendendo os benefícios da corrida sem calçado. Em seu estudo, Lieberman analisou 63 corredores e observou que aqueles que usam tênis tendem a inverter a pisada: em vez de usar o amortecimento natural do corpo, colocando primeiro a parte da frente e central do pé em contato com o chão e só depois o calcanhar, eles iniciam a pisada pela parte de trás do pé. Essa forma de pisar, segundo o americano, está associada a problemas como lesões do músculo tibial (responsável por tracionar o pé para cima). Sua conclusão é de que o corpo já teria as adaptações necessárias para absorver o impacto da corrida e, portanto, não precisaria do amortecimento dos calçados. “É absurda a ideia de que precisamos de um tênis superacolchoado para correr”, afirmou à ISTOÉ. Outra referência entre os corredores descalços é o livro “Nascidos para Correr”, do jornalista Christopher McDougall, lançado no Brasil neste ano. A obra conta como McDougall se viu livre das lesões após abandonar os tênis. Inspirado pelo exemplo do jornalista e pelas pesquisas de Lieberman, o médico Erik Neves, 40 anos, de Brasília, resolveu começar a treinar descalço. E chamou mais gente. O grupo recém-formado conta agora com cinco pessoas. “No Brasil estamos atrasados no assunto”, diz o médico, que montou um blog sobre o tema. Os praticantes contam ainda com a adesão dos usuários dos calçados minimalistas, espécie de sapatilhas para corrida, sem amortecimento. Em Curitiba, o casal Rodrigo Stulzer, 38 anos, e Maria Izabel Valdega, 37, usam. “Sinto menos dores no joelho”, diz Rodrigo.

O tema, porém, é controverso. “Não deixo meus alunos treinarem descalços e nem com sapatilhas”, diz Marcos Paulo Reis, dono de uma assessoria esportiva em São Paulo. Para Reis, tênis são fundamentais para reduzir o impacto sobre as articulações e evitar lesões. Mais moderado, Júlio Serrão, da Universidade de São Paulo, reconhece a importância do contato direto do pé com o chão. “Sem o tênis, aumenta o trabalho muscular, principalmente dos grupos musculares responsáveis pelo controle de choque, o que é positivo”, avalia. Para usufruir desses benefícios, no entanto, ele acredita não ser necessário correr descalço. “Se a pessoa andar descalça em casa, exercita esses músculos.” Por isso, ele aconselha a fazer o aquecimento e o relaxamento sem os calçados e, na hora do treino, calçar os tênis. “Criamos a ilusão de que temos uma dependência do calçado e isso não é verdade”, considera. “Mas ele é um artigo que ajuda no amortecimento, no controle da temperatura e na distribuição da pressão sobre a planta do pé.” Como se vê, a polêmica ainda tem muito fôlego.

Fonte: Istoé

terça-feira, 18 de maio de 2010

Proibir alimentos calóricos na escola poderia prevenir a obesidade infantil

A proibição de alimentos calóricos à disposição de alunos nos ambientes escolares poderia ajudar a reduzir os problemas relativos à obesidade na infância, diz um estudo feito pela Universidade Estadual de São Francisco, EUA, e publicado no periódico Health Affairs.

“Essa pesquisa trouxe à tona resultados bastante claros de como a obesidade infantil pode ser combatida a partir de políticas públicas conscientes”, diz Emma Sanchez-Vaznaugh, pesquisadora que colaborou com a pesquisa.

A obesidade infantil tem aumentado assustadoramente em todo o mundo. Só nos EUA os números triplicaram nas últimas três décadas. Hoje em dia, uma em cada três crianças americanas tem sobrepeso ou sofre de obesidade.

Para o estudo, os pesquisadores usaram dados sobre o Índice de Massa Corporal (IMC) de crianças. Os números foram colhidos durante oito anos como parte de um estudo amplo feito anualmente na Califórnia. Os resultados da análise da pesquisa americana mostraram como a taxa de sobrepeso estava aumentando em todos os subgrupos de estudantes do ensino médio. Entretanto, após três anos da vigência de uma lei aprovada em alguns Estados brasileiros, esses problemas diminuíram significativamente. A única exceção foi quanto às adolescentes do sexo feminino nos primeiros anos do ensino médio, cujas médias só se equilibraram nos anos seguintes. Mas isso poderia ser explicado pelo desenvolvimento natural do corpo feminino nessa idade.

“Mesmo sabendo que as políticas públicas não influenciam diretamente o comportamento dos estudantes, nosso estudo mostrou que é possível criar um ambiente onde os estudantes tenham a chance de aprender a fazer escolhas alimentares e isso pode, de alguma forma, moldar seus comportamentos alimentares futuros. A partir disso seria possível influenciar as tendências de hábitos alimentares em toda a população estudantil”, explica Sanchez-Vaznaugh.

Mas a pesquisadora diz que é necessário observar o entorno das escolas, onde bares e pequenos mercados podem continuar vendendo alimentos pouco saudáveis e com custos menores - o que é problemático, especialmente em bairros mais carentes, caso as cantinas escolares não ofereçam opções econômicas de alimentos - além de enfatizar que é necessário que as escolas também contribuam com um ambiente que facilite a prática de atividades físicas.

No Brasil, é interessante observar que foi rejeitado ano passado, em São Paulo, um projeto de lei que proibia a venda de alimentos inadequados para os estudantes, e que fossem à base de açúcar e gordura saturada. Entre as proibições estariam os refrigerantes, salgadinhos fritos e guloseimas calóricas. Iniciativas similares estão em andamento atualmente no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, mas seguem indefinidas.

informações da San Francisco State University